quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Pensando Martin Buber

 

Martin Buber influenciou o pensamento filosófico posterior muito mais por sua compreensão das relações antropológicas e psicológicas do que pela formulação de princípios e enunciados filosóficos.

Sua busca pela essência do ser humano se baseia não em pressuposições filosóficas, mas na análise antropológica do ser humano como objeto e origem da compreensão do mundo. É do diálogo e da interação com o OUTRO que o EU ganha essência e significado. E é da totalidade dos diálogos e relacionamentos interpessoais que o mundo pode ser compreendido, uma vez que ele é formado não por núcleos isolados de EU, mas da composição do EU-TU, EU-ISSO.

Por isto, também Buber não pretende impingir a seus leitores um emaranhado de declarações apodíticas e axiomáticas. Ao contrário, ele trata de estabelecer um relacionamento de diálogo com eles, baseado na similaridade das experiências do pensador e do leitor. Ele convida seu leitor a analisar se a experiência do filósofo, narrada em suas obras, pode ser considerada propriamente sua também.

Ao postular que as experiências humanas podem ser resumidas de uma forma ou de outra nas relações EU-TU, EU-ISSO, Buber ataca o individualismo antropocêntrico de pensadores Iluministas, bem como o totalitarismo coletivista, com sua “desindividualização” do homem, tornado apenas parte de um todo. Pela ótica de Buber, o homem não é “parte” do todo, mas criador do “todo”. É parte ativa não apssiva no processo de moldar o mundo, por suas interrelações, seus diálogos e iterações.

É do diálogo, pensa Buber, da expressão da linguagem, da palavra e do dizer, que o homem ganha existência plena. A palavra, princípio do diálogo, é também o princípio da existência humana. Mais uma vez, torna-se evidente que, para Buber, a existência existe apenas na relação dialógica entre o EU e o TU, ou o EU e o ISSO.

Importa destacar que Buber não limita o TU da relação dialógica apenas a outra pessoa, outro ser co-igual ao EU. O TU, na verdade, é de sentido amplo, podendo ser uma coisa, um animal, pessoa, ou até Deus. O importante, para Buber, não é co-equalidade dos pares do diálogo, mas a possibilidade do EU expressar-se dialogicamente e receber respostas. Entretanto, o TU é completamente outro, para usar a expressão de Karl Barth. Ele não é parte do EU e não se mescla com ele. De fato, o verdadeiro diálogo exige que o TU seja completamente TU, não mera expressão do EU. E o reconhecimento desta diferença essencial e a sua aceitação necessária, formam as bases dialógicas da relação.

De igual maneira, o ISSO não deve ser limitado apenas a coisas, mas de igual forma, pode ser aplicado a pessoas, etc. Nesta relação do EU-ISSO, o que se estabelece é o “vínculo objetivante” que dá suporte ao conhecimento a experiência cognocitiva.

Como bem observado por Newton Aquiles von Zuben (Diálogo e Existência no Pensamento de Martin Buber em http://www.fae.unicamp.br/vonzuben/dialogo.html, acessado em 28 de março de 2009), o “Eu-Tu é a relação ontológica, esteio para a existência dialógica, para o diálogo; Eu-Isso instaura o vínculo objetivante, lugar e suporte da experimentação, do conhecimento, da utilização, "o reino dos verbos transitivos", como chama Buber.”

Por fim, Buber nos adverte que o dialógico não pode ser equiparado ao amor. Não se pode confundir o amor com o diálogo e este na implica necessariamente àquele. Usando o exemplo de Jesus que, em sua visão, dialogava com todos, mas amava a alguns, Buber pensa que o amor não pode ser tornado equivalente ao dialogar. Mas, diz-nos, o amor sem o movimento dialógico de “sair-de-si-em-direção-ao-outro” é um permanecer em si mesmo, auto centrado, é o próprio Lúcifer, que olha para si ao invés de para Deus, para o Outro.

 

Referências

Buber, Martin. I and Thou (New York, 1970)

Friedman, Maurice. Martin Buber: The Life of Dialogue, (The University of Chicago Press, 1955)

Zuben, Newton Aquiles von. Diálogo e Existência no Pensamento de Martin Buber em http://www.fae.unicamp.br/vonzuben/dialogo.html, acessado em 28 de março de 2009

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