sexta-feira, 6 de abril de 2012

Vayshlach

Bereshit 32:27-28

Haftara: Obadias 1:15-17 (Oséias 11:7-12:4)

B’rit HaChadasha Mateus 11:28-30

Jacó e o AnjoA Parashá (porção)  de Vayshlach começa em Gênesis 32:4 e se estende até Genesis 36:43 e trata de eventos em torno de Jacó e seu encontro com Esaú. A descoberta de que ele viria ao seu encontro. A luta renhida durante a noite no vale de Jaboque. O encontro com seu irmão. A partida para Sukkot. A violação de Diná e a vingança de Simeão e Levi. A renovação da aliança de Deus com Jacó em Betel. A morte de Isaac e a descendência de Esaú.

De todos os episódios aqui narrados, o mais comentado, o mais estudado é sem dúvida alguma a luta de Jacó em Jaboque. Em nosso meio, este evento é visto com tipo da angústia final nos tempos da perseguição. Em sentido escatológico, é possível se extrair lições importantes, mas em um senso mais pessoal e imediato também encontramos algumas lições.

Antes de mais nada é interessante analisar a situação de Jacó: Por 20 ou 21 anos esteve trabalhando com Labão, havendo por salário as filhas. Saindo dali, é perseguido pelo sogro, e com ele faz uma aliança de não agressão, em Galaade. Mal se recupera do entrevero com Labão, tem que se defrontar com Esaú. É um momento de grande angústia para o Patriarca. E ele faz a coisa certa: Busca a Deus e reclama suas promessas! Ele se joga angustiado diante de Deus e reclama ao Altíssimo o cumprimento de Suas palavras, com promessas de proteção e de descendência. Ainda que angustiado ele se lembra das mercês de Deus para com ele. Esta é uma importante lição. Por mais negro que seja o horizonte à frente, é preciso olhar para trás e visualizar a Luz protetora e salvífica que emanou da companhia de Deus em nossa vida. Na verdade, esta luz que esparge dos constantes atos divinos em nosso favor deve estar diante de nossos olhos constantemente, permitindo que enxerguemos para além da tempestade, dos obstáculos e problemas. Ela foi o farol de todos os grandes homens da história da redenção.

Voltemos a Jacó. Inconstante é a melhor palavra para defini-lo aqui. E não é demérito, afinal de contas ele era humano e nós humanos em situação de medo somos inconstantes em nossas ações, até irresponsáveis, e principalmente somos instintivos, apressados. Veja como Jacó, até aquele momento em oração, demandando de Deus o cumprimento da promessa, em um arroubo de imediatismo e apuro tipicamente humanos, resolve tomar as rédeas da situação em suas mãos: ele traça um plano de abordagem a Esaú: “vou comprá-lo com presentes!” Eis o velho homem! Ele quer ludibriar o irmão, manipulá-lo com posses, com presentes, com riqueza. Ele ainda não havia entendido nada. Novamente a angústia cai sobre ele. E ele não dormiu. Apesar de sua linda oração, reclamando a promessa, ele deixou de repousar na certeza de que o Deus que lhe havia prometido proteger, estaria ao seu lado, adiante dele. E por isto houve batalha.

O texto que lemos narra o resultado de uma batalha travada por Jacó com um homem um ‘ish, que lutou com ele toda a noite. A identidade deste homem foi discutida por rabinos, sábios e comentaristas. Considerando o que é dito em Oséias 12:4 e pelos Testemunhos, entendemos que sua luta ali foi com o próprio Cristo. Entretanto, gostaria de fazer um exercício midráshico aqui e explorar alguns outros sentidos possíveis:

Primeiro: o termo utilizado para descrever a luta entre Jacó e o ‘ish, em hebraico guarda semelhança fonética com o nome do próprio patriarca Ya`akov: Ye’avek. Isto poderia indicar uma luta de Jacó consigo mesmo. É como se o resultado do encontro com D-us lhe houvesse causado uma intensa batalha com seu próprio caráter, com seu Ietzer Hará. Este é o resultado natural de um encontro com D-us ou seus mensageiros: somos confrontados de forma poderosa com a depravação e sujeira de nossa própria vida, com a nossa falta de fé, com nossa hipocrisia, enfim, com todas as nossas lutas diárias. Como vencê-las? O Hefetz Haim nos diz que sobre 3 bases: “Hesed (Bondade), Avodá (Adoração a D-us) e o Estudo da Torah”.

Segundo: É dito que Jacó venceu. Como poderia ele haver vencido a um anjo? E como poderia haver vencido ao Filho de D-us? Apenas pela Misericórdia. Oséias (lido como Haftará em algumas comunidades Askenazitas) nos diz que ele prevaleceu por suas orações. Eis aí mais um segredo de uma vida vitoriosa: oração. A oração permite que as batalhas sejam lutadas e vencidas. Se há que lutar com D-us, lute com Ele em oração. Derrame-se diante dEle e reclame as Suas promessas. Não há nenhum mal em demandar de D-us o cumprimento das promessas em sua vida, desde que sua vida esteja preparada para receber estas promessas. Não há mal em lutar com D-us quando a angústia vem, reclamando de Sua promessa de estar contigo. O mal está em colocar-se diante de D-us para pelejar uma batalha na tentativa de mudar a D-us, de mudar um ditame divino, uma ordem do Eterno.

Terceiro: Para lutar com D-us é preciso se aproximar de D-us. Interessantemente, a Torah diz literalmente que Yaakov lutou “COM” D-us e os homens, `im. Esta preposição indica proximidade. Por outro lado, o texto parece querer dizer que a luta de Yaakov em todos os momentos foi ganha “com” o poder de D-us. Mesmo quando ele lutou com D-us, a fonte de sua vitória foi o próprio D-us! Isto quer dizer que D-us não estava ocultando uma benção do patriarca, nem lhe era contrário, mas Se permitiu reter para ensinar a ele que a vitória sobre o ódio de Esaú e sobre seu exército não seria ganha por presentes e mensageiros, mas pelo próprio D-us. Não serviria de nada enviar juntas de bois, gado e servos se o Eterno não houvesse já ganho aquela batalha na mente e no coração de Esaú.

O Eterno então muda o nome de Jacó para Israel. Sua batalha com D-us traz dupla recompensa: Seu nome, manchado por suas atitudes passadas, ligado a uma história de usurpações, é mudado. Um novo nome lhe é dado, simbolizando seu encontro com D-us e lembrando a ele e a todo um planeta que em D-us há vitória e libertação. Que para o Altíssimo, o passado é apenas isto: passado, para todos os que se aferram a Ele e reconhecem o Seu poder em abençoar. Ele é o Libertador em Sião. Esta é a segunda recompensa: libertação, redenção e proteção.

Deste libertador nos fala o texto da Haftará. Seja o texto de Obadias, seja o de Oséias, falam da vontade de D-us em libertar Seu povo, e declaram que Ele toma sobre Si a responsabilidade final de extinguir os inimigos e de Libertar. Tome Esaú como um símbolo de tudo o que aflige o povo de D-us: Dor, Sofrimento, Angústia mental e física, temor, frio, fome. D-us nos diz em Obadias que quando Ele se assentar em Sião, haverá um fim para tudo isto, pois o povo de Jacó herdará tudo.

Por isto, na Besora somos convidados a descansar no Messias, Yeshua, Jesus, nosso Salvador e nossa herança. Ele batalhou a maior das batalhas por nós. Éramos como Jacó naquela noite: estávamos diante de um inimigo muito maior, muito mais poderoso do que nós: a morte eterna. Mas Ele arrancou nossos braços da cruz que era nossa e pregou os Seus. Nele podemos descansar.

E quando Nele descansamos, quando ele passa a viver em nós dEle recebemos forças, ânimo e motivação para cumprir os três pilares da vida:

Olhamos ao mundo de forma mais bondosa e amorosa. Preocupamos-nos com o futuro das pessoas, mas também com seu presente. Olhamos a todos como seres especiais, criados a imagem e semelhança do Altíssimo, comprados por preço e por quem Ele se ofertou. As vemos como vivendo agora em uma angústia para a qual existe uma solução: Jesus o Messias. Isto é Hesed.

Entendemos então parcamente o tamanho do amor de D-us pelo mundo e por cada um de nós. Ele se permitiu vencer ali no Jaboque, porque Ele queria abençoar. Ele se permitiu matar ali no Calvário, porque Ele queria Salvar! Ele tem Se permitido ser questionado hoje, porque Ele quer responder amanhã de forma completa e final! Quando entendemos a ação de D-us no Jaboque e no Calvário, entendemos porque o Eterno merece ser adorado! Então, nos deleitaremos na Avodá!

Por fim, quando entendemos o papel da Torah, dos profetas e da Brit hadasha no plano salvífico traçado por Ele, então nos deleitaremos em passar horas meditando em Sua palavra ali gravada. E em cada página lida, em cada palavra sorvida com anseio, mais saciados seremos da fome espiritual que nos aflige, mais poder teremos para lutar as batalhas, pois nestas páginas encontramos ao El Elohey Ysrael O Poderoso Deus de Israel, andando entre nós e nos tirando toda a carga da angústia, todo o pesado jugo e nos fazendo o convite: “tomai sobre vós o meu jugo” E o Seu jugo é leve, pois é vitória.

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